Gilles Deleuze
por Enrique Landgrave
... linhas de fuga - devir - imanência - repetição - singularidade - corpo sem órgãos - sentido - plano - multiplicidades - diferença - sensações - arte - máquinas desejantes - intensidades - máquinas de guerra fluxos - rizoma - abecedário - hecceidades - escrileituras - educação - vida - literatura - performance ...

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diferença e repetição - gilles deleuze - por andresa nix

África - Perpetuum Jazzile

Corpos sem Órgãos por Ana Paula Pessoa (Grupo Interzona)

O que é música - Marli B. Camargo

Música é uma forma que traz ao indivíduo uma aproximação de movimentos e sensações. Um relacionamento profundo do imaginário com a exploração e expressões.

BRINCAR DE MÚSICA
Vamos brincar de escrever
Não vamos dar dicas
Apenas escrevam
Escrevam, escrevam
Isso suou fundo
Em meus ouvidos
Como um tambor
Como a uma musíca
Sem acordes, sem ritmos
Sem melodias
Movimentos nas carteiras
Canetas rabiscam as formas
De fugir dos conceitos criados
Por meios de interesses
Iguais ou desiguais
ecos, passos produzem um murmurim
pesquisas, livros, sensações
casos e descasos
Provocam uma incerteza
do que é brincar ou
criar música
Mas a insistência diz:
-Crie, brinque e sente
Apenas o som que vem
E o som que vai
apenas crie e sente. 

O que é música? Marcelo Petter de Vargas


Música é algo que não ouvimos, mas sentimos.
É o ritmo sincopado da vibração cardíaca.

Marcelo Petter de Vargas

Fonte da imagem: clickgratis.com.br

Um conceito para a palavra MÚSICA

Um conceito para a palavra música LUFADA Um conceito para a palavra música luFadA Um conceito para a palavra música LuFADa Um conceito para a palavra música LUfada Um conceito para a palavra música luFADA Um conceito para a palavra música lufada Um conceito para a palavra música LuFaDA

Música Lufada!
Música: Epifania!

Daninoal.. (lufada de beijos)

Fonte da imagem: aulaparticulardeingles.com.br

O que é música? Maria da Luz C. Botão

A música é algo que acontece aos sentidos, transforma o viver, perpassa os diversos ritmos individuais, construindo teias, sonoridades precípuas, re-construindo por meio da dialogicidade novas realidades, toque a toque.


SENTIPENSADOR - Eduardo Galeano

"Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos? Desde que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina a divorciar a alma do corpo e a razão do coração. Sábios doutores de Ética e Moral serão os pescadores das costas colombianas, que inventaram a palavra SENTIPENSADOR para definir a linguagem que diz a verdade."
(Eduardo Galeano)

Fonte da imagem: colombia.indymedia.org

Bio-Oficinas de Filosofia

...onde começa, onde termina... não se sabe nem se quer saber, todavia se sabe que as bio-oficinas de filosofia possibilitaram entender que para tornarmos a vida mais leve, basta que acreditemos em nossa potência feliz-trans-criadora-rizomática. o que antes nos pesava densamente, prendendo-nos a um solo de certezas forjadas, atualmente possui tanta leveza que é capaz de escorregar, de deslizar em diversas superfícies e em variadas posições, sem ter a pretensão de alojar-se e ficar como estátua em nosso pensamento, imobilizando-nos a fim de que representemos justamente aquilo que não somos, mas que nos ensinaram a ser. cai a máscara que oculta o estranhamento, entra o simulacro solapando mil faces, di-visíveis possibilidades: artísticas, políticas, literárias, cênicas, musicais... como resultado provisório das bio-oficinas de filosofia, que causaram um intenso impacto com-no meu ser, eu digo o seguinte: podemos, sim, afetar este mundo-violento-ao-contrário, sim, que é lindo, sim, porque é potência de vida, sim, sem precisarmos derramar sangue-morticínio. o único sangue, sim, de que precisamos, sim, deve correr, sim, em nossas veias, sim, atravessado, sim, pelo devir-paixão. paixão, sim, que afecta e afeta, sim, que causa um barulho desordeiro em nossa consciência, sim, que esparrama sentires e devires necessariamente necessários, sim, em todos os espaços por onde eles passam, sim, descontruindo moradas estereotipadas pelo medo. as bio-oficinas de filosofia, sim, em dias quaisquer do mês de julho, sim, de um ano qualquer, sim, de um tal calendário lunar, sim, que pseudoformata o tempo, sim, se atravessaram em meu caminho, sim, para eu nunca mais precisar, sim, viver, sim, a vida do jeito que eu vivia. beijos, muitos beijos, sim, a ti, patrícia, e aos meus queridos e amados colegas, por produzirem em mim tamanha felicidade, feliz-idade. tânia marques

Le Voyageur - Guitarra de Richard Pinhas, voz de Gilles Deleuze, texto de Friedrich Nietzsche.

Le Voyageur"
music by Schizo
featuring
Richard Pinhas - guitar
and Gilles Deleuze - voice
Nietzsche writing recited by Deleuze:
He who has attained the freedom of reason to any extent cannot, for a long time, regard himself otherwise than as a wanderer on the face of the earth - and not even as a traveller towards a final goal, for there is no such thing. But he certainly wants to observe and keep his eyes open to whatever actually happens in the world; therefore he cannot attach his heart too firmly to anything individual; he must have in himself something wandering that takes pleasure in change and transitoriness." --from The Wanderer, in the first volume of Nietzsche's Human, All Too Human.
Full line up of musicians:
- Richard Pinhas / AKS synthesizers, 1957 Gibson Les Paul guitar
- George Grunblatt / VCS3 synthesizers
- Patrick Gauthier / piano, VCS3 synthesizers
- Coco Roussel / drums
- Pierrot Roussel / bass guitar
- Gilles Deleuze / vocals

entre-tantos


nos entretantos
dos entremeios
nos entretantemos
entre outros tantos
entresseios...


Tânia Marques 20/08/2011

poema-vermelho

pichei o céu 
de vermelho
pedacinho por pedacinho
de qualquer jeito
ele soluçou
esfacelou-se
morangou-se
de-fininho... mif

Tânia Marques  20/08/2011
imagem e texto


Conceito de Elisa Pacheco para a palavra MÚSICA


Por que falar de música?

Música é composição
É compasso, é ritmo, é inspiração,
Música não se pensa, se cria,
Vem da imaginação!
Música é melodia, é aquela sinfonia,
Que se escuta ao entardecer e ao nascer do dia...
Música pode ser uma teoria, uma matemática,
Ou somente acordes ou notas práticas!
Música é arte, talvez não tenha uma explicação,
Uma poesia de versos soltos, rimas que dão o tom!
Música é bateria, é pandeiro, é violão,
É produzida na mente e sentida pelo coração!
Música é essa energia que mexe com os dedos, pés,
Mãos e entranhas, ela tem essa façanha
De entrar pelos ouvidos, sair pela voz,
Continuar na cabeça, é assim que ela me ganha!
Música se aprende no palco, se aprende na escola,
E se aprende com a vida, se aprende até...
Sozinho em qualquer lugar, em qualquer cantinho,
Música é simplesmente se deixar musicar...
É despertar com o sol e dormir com o mar,
É acreditar que a chuva que pinga tem
O som pra te seduzir e fazer amar,
Música é cada gesto, barulho, clique ou estalo
Que faz crescer aquela vontade de
Saber se expressar como o bem-te-vi, o rouxinol ou o galo!
Música é essa batida, essa cantoria,
Que vem de fora, vem de dentro, vem de noite e...
Vem de dia, principalmente
Na madrugada, tempo em que poetas,
Músicos e compositores saúdam, revelam,
Martelam e inventam suas histórias, diálogos,
Romances e amores!
Música é esse dissabor, esse não saber
Que cutuca todo o meu corpo e deixa
A minha cabeça maluca de devaneios
E sensações,
Nossa, ufa, puxa,
A música pode ser o freio ou
O acelerador de ilusões!
Quanta batucada tem essa música,
Que invade o silêncio, as boates, as paradas...
Por que falar de música?
Talvez por ser ousada, tímida, calada,
Descrente, despudorada,
Essa música dita a psique,
A nossa personalidade,
Ela cria tribos, razões e identidades!
Música é liberdade, é a invenção
Do cotidiano,
Música pode ser feita por ele, por ela ou.
Por engano!
Em fim,
A música é o tim tim tim
Do ser humano!
Ela carrega em si uma
Estranheza
Que pode intensificar paixões,
Alegrias, desejos, tristezas...
A música tem essa natureza
De encantar, levar as pessoas
Para o seu mundo, contemplando
Sonhos, os abismos mais profundos!
A música toca, brinda, grita, bate, revira
O nosso ser, ela tem esse poder
De nos silenciar ou enlouquecer!
Ela é rock, samba, jazz, erudita...
Pobre, feia, rica, ou bonita, cantada,
Ou instrumental
Sempre vai ser música,
Que embala da dança de salão
Ao carnaval!
Música é brutalidade,
Sintonia, sensibilidade,
É aquela canção que nos remete
Saudade!
Ela agrega a nossa espiritualidade,
Música é essa criação,
Genialidade inscrita, escrita, não dita,
Que movimenta a humanidade...
Por que falar de música?
Não sei, é que dá vontade...
Posso estar louco, rindo, sóbrio,
Infantil, ou em maturidade,
A música convoca todos os defeitos,
Virtudes e qualidades,
É por isso que não se precisa
Falar de música,
É suficiente deixar ela
Comunicar você intensamente!

Fonte da imagem:

Conceito de Wagner Ferraz para a palavra MÚSICA

Música

Possibilidades apresentadas ao corpo para que este experiencie seu próprio peso em diferentes espaços, constituindo diferentes dinâmicas.

Wagner Ferraz

Conceito de Tânia Marques para a palavra MÚSICA

CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO PARA A PALAVRA MÚSICA, elaborado na oficina de (DES)EDUCAÇÃO MUSICAL, do dia 11 de agosto de 2011.
bate-bate
tum – tum – tum
vibra
sobe
despenca
brinca de ser ritmo
coração que bate
balança
que nem pimponeta
quando criança
dança circular
roda, toca, roda, toca
acelera!
para!
volta e encara
faz crescer
as gentes
de
todas
as gingas
pancadas no pandeiro
reco-reco
ti – ti – ti – tum!
tum – tum
tum – bum!
música!

Tânia Marques

Traduções do conceito de rizoma

 Iago Gonçalves Cunhal

 Fani Tesseler

Marli Barruffe

 Teresa Goettert

 Ana Iara Silva de Deus

 Caroline Felipe

Elisandro Rodrigues

  Tânia Marques

 Neuza Márcia Magnos de Oliveira

oração - a banda mais bonita da cidade


"Sou-riso De-lírios. Embriago-me e morro disso. Muito melhor do que de dor ou tédio... Ame(é)m!" (DaniNoal)
Uma produção que mostra, vê, olha, morde, nos puxa para dentro.
Não explica. Não representa. Não descreve. Nem se preocupa com isso.
Este nível de transbordo e brinquedação é fantástico!

E o que mais vir..
Beijo-vos!
Daninoal
********
silêncio que grita
que punge-vibra-pulsa
(punctum?)
na inexpressão
e flui
mundoadentro
mundoafora
SeNsAçãO

videopinturafotográfica

criação?

beijo-beijo!
Letícia Gomes
********
sinto para des-aprender
des-aprendo para sentir
sinto o sentir no vácuo
o grito violenta o silêncio
o silêncio ri o riso da inércia
a inércia é o ócio
o neg-ócio é nada
nada mais que sentir
o silêncio esfacelado
trans-borda-mental

beijos
tania marques

Procuro despir-me do que aprendi, (Alberto Caeiro - Fernando Pessoa)


Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar
que me ensinaram, 
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a natureza produziu.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...


Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

A Caixa - The box - Gabriel Gomes

Olhem o nosso colega Elisandro, que show neste curta!!!

A CAIXÄ (the box)
from Gabriel Gomes on Vimeo.

Curso lindo de viver

Queridos oficineiros do Projeto Escrileituras e colegas das oficinas,

Estou escrevendo para compartilhar a minha alegria e intensa emoção em fazer parte deste grupo de estudos. Este curso está fazendo a diferença em minha vida, pois em todos os âmbitos de minha existência sinto-me literalmente afetada. Lindo é sentir que todos vocês são rizomas que me atravessam e que saem de mim a todo momento, passando entre as minhas ações, entre o meu discurso, entre o meu pensamento, entre o caos, entre o meu sono, entre os meus sonhos, entre a minha prática educacional. O discurso de todos os oficineiros teve, até agora, uma só voz, foi uno enquanto singularidade permeada de potências e devires-libertários, ao mesmo tempo, instigante a uma multiplicidade de traduções [artísticas, ideológicas, existenciais etc.]... Tradução, palavra forte com efeitos deliciosos. Nada, hoje, nada mesmo, passa por mim despercebido, sem que eu pense antes "sentir para traduzir" e fugir dos "clichês fascistas" a que as pessoas estão sujeitadas sem se darem conta. Procuro as linhas de fuga em todos os 'textos' que me rodeiam, estou adorando pintar, coisa antes nunca tentada por me considerar sem habilidade para esse tipo de expressão plástica, ampliei meu desejo de escrever, que já era pra lá de forte, enfim, sinto-me com vocês, com Deleuze, com Guattari e com a Filosofia da Diferença, desterritorializando esta vida formatada por um sistema que só soube fazer da exclusão o seu meio de sustentação e da representação a sua legitimação. Amo vocês e envio em anexo, uma foto da tela rizomática pintada por mim no final de semana passado. Beijos para todos nós. Tânia Marques
 
Cidade rizomática - Tânia Marques

Fonte da imagem: webdeleuze.com

Francis Bacon: lógica da sensação - Resenha

Francis Bacon: lógica da sensação

Em análise detalhada da obra de um dos maiores pintores contemporâneos - o irlandês Francis Bacon (1909-1992) -, Gilles Deleuze (1925-1995) aborda a questão: como escapar da representação na pintura? Aproximando sua obra à de Cézanne, Deleuze aponta um fio condutor: pintar a sensação. Entendendo sensação como "o que passa de uma ordem a outra, de um nível a outro, de um domínio a outro", como agente de deformações do corpo - diferentemente da atuação das artes figurativa e abstrata, que ocorre diretamente no cérebro, sem acesso à sensação - a arte de Bacon atua nas diferentes "ordens de sensação". Através de deformações, Bacon testemunha a "ação de forças invisíveis sobre o corpo", em espasmos como o encontrado no tríptico de 1973, incute ritmo à sensação visual, promovendo intensidades que tocam os sentidos por amplitudes, atingindo o "corpo sem órgãos" - descrito por Artaud - via vibração. "... quando a sensação atinge o corpo através do organismo, adquire um caráter excessivo e espasmódico, rompendo os limites da atividade orgânica. Em plena carne, ela age diretamente sobre a onda nervosa ou a emoção vital". Não se trata de apontar elementos visuais apenas, ou que toquem um sentido, uma parte do corpo, ou o organismo. Trata-se de uma intensidade tal que reverbera por todo o corpo, um corpo sem órgãos, e que o toca em sua totalidade e movimento, afetando-o em sua vibração, por todos os sentidos, atingindo o sistema nervoso, provocando a afecção da sensação. Aproximando Bacon de Artaud, Kafka, Beckett, Pierce, entre outros, Deleuze apresenta elementos de seu próprio pensamento entre conceitos que se constituem por perceptos e afectos. A cuidadosa tradução da equipe coordenada por Roberto Machado (UFRJ), permite ao leitor o acesso a um texto que provoca as intensidades, os movimentos, as sensações, tal qual a obra que analisa.
DADOS:
Título: Francis Bacon: Lógica da sensação
Autor: Gilles Deleuze
Equipe de Tradução: Roberto Machado (coord.)
Ano: 2007
Editora: Zahar
Páginas: 183
ISBN: 978-85-378-0025-6

Responsável: Monica Aiub

Concepção cartográfica

“Una concepción cartográfica es muy distinta de la concepción arqueológica del psicoanálisis. Este vincula profundamente lo inconsciente a la memoria.../Por el contrario, .../ de un mapa a otro, no se trata de la búsqueda de un origen, sino de una evaluación de los desplazamientos”

Texto imagético e poema de Eloenes L. Silva

Eloenes L. Silva
“Atônito ser
Quieto, miúdo e
Mudo.”

Um rosto que escapa – devir-animal, devir-imperceptível

Texto escolhido: "História Vivida de Artaud-Momo"
Leonardo Martins Costa Garavelo

As forças no texto que me atravessam: Artaud me conduz entre insanidades sem segurar minha mão.
Com ele caminho entre as paredes ruminantes do hospício e minha mão agarra palavras.
Elas me escapam.
Seu texto não se efetiva na consciência.
No encontro com meu corpo, duram expressões que me conduzem pelo sutil fio entre criação e loucura.
Com Artaud passo uma linha invisível que sozinho não aguentaria...
meu corpo não suportaria tamanha desrazão...
Artaud me faz percorrer mundos estranhos onde pouco importa minha estrangeirice.
Me torno apenas um alguém.
Um percurso impessoal se efetiva na leitura...
enlouqueço sem permanecer na loucura.
Artaud me apresenta um povo delirante, uma zona de afecção e imprevisibilidade que está além ou aquém do pensamento.
É uma dança xucra em volta do fogo, no ritmo de cânticos profanos.
Pensamento e vontade de escrita em dança, compondo uma superfície de encontro.

A criatura do texto: um rosto que passa.
Um rosto que escapa – devir-animal, devir-imperceptível

Leonardo Martins Costa Garavelo

Rosto, loucura, encontro
Desrazão, invenção, devir,
Potência, tempo, superfície,
Linhas, traços, cores, música

A linha se perde, se esvanece, dissolvida em névoa impessoal. Deste encontro uma zona intensiva, um gosto possível. Marca no tempo a invenção de uma existência. Efeito de um delírio imanente à respiração, a poesia cria o tempo deste encontro entre vidas: Leo, Artaud, Frontino ; e quantas outras?
Superfície do encontro, linhas de carne e música: o corpo na cadência do tempo. Quero tocar o tempo com minha mão louca. Ponta dos dedos delirantes riscando palavras e cores. As palavras e as cores deliram meus dedos. Olhos que não são feitos apenas para ver, mas para abrir mundos. Boca que grita memórias futuras e engole a embriaguez daquilo que se faz expressar.

Tudo o que eu não invento é falso

Cristina Bischoff
Foi por isso que eu cheguei aqui. Pra me inventar de novo. Porque eu mudei muito. Passei por várias mudanças físicas, espaciais e emocionais em pouco tempo. Cabelo, cidade, casa. Muita coisa mudou e eu me desconheço. E me paralisa a dificuldade de escrever sobre quem eu sou agora. Estou entre dois lugares procurando identidades que me façam sentir em casa, no meu próprio corpo. De novo, eu. Então eu roubo a autoria dos textos de outros pra dizer que são meus. Outros autores falam de mim mais do que eu possa expressar. Dizem, escrevem o que eu gostaria de ter escrito. Assim com Pierre Menard, cuja grande obra impossível é recriação do Quixote, palavra por palavra criada. Assinar o mesmo texto,  ainda assim,  diferente;  hoje mais rico, mais complexo a medida que o tempo o corrompe.
***
Pierre Menard
Balançou a cabeça confuso. Reinventou o que já haviam inventado. Releu a sua trajetória de leitor solitário. Cervantes roubou-lhe o texto antes que pudesse escrevê-lo.  Derrubado pela força de sua obra, tornou-se fraco e aniquilado.  - Já nasci aniquilado, pensou, -  sob o peso de uma cultura que me faz viver de cópias, como se fôssemos cópias de algo sempre maior do que nós mesmos. Olhou para o seu colega ao lado. Gostaria de dizer o que ainda não foi dito, o verdadeiro nome de deus,  o impronunciável. Mas como falar o impronunciável que está aqui?


***
O Rebelde
                                                Cristina Bischoff

A mãe apertou as bochechas do menino até conseguir que abrisse a boca o suficiente para fazer entrar a colher cheia de arroz, feijão, carne e farinha, tudo misturado. Acriança, imobilizada, parou de resistir e se pôs a mastigar e engolir antes que se deixasse engasgar pela quantidade enorme de comida.

Desde que podia recordar-se, a mãe suscitara-lhe, por meio de gestos e palavras cotidianos, que sua vida era uma guerra e que ele, com certeza, era um rebelde que só se renderia quando subjugado pela força bruta a lhe tolher os atos. Sua resistência recrudescia a cada dia. A cada prato, batiam-se em uma nova batalha. Enquanto ele cedia ao fim, por comer um pouco. A mãe, por sua vez cedia ao se afastar dele pelo resto da tarde, com medo de perder o controle instável de seus nervos.

Enquanto longe da mãe, um apetite violento rugia em seu estômago. A fome, porém, não era a conseqüência maior, mas, sim, a voracidade de seus instintos de defesa, de revolta contra sua condição vulnerável em um mundo de gigantes.

Dessa circunstancia particular, foi sendo projetada uma espécie de caráter político em sua formação. Anarquista, seu ensejo pela contracultura veio a ser, não apenas a manifestação de sua crítica social, mas, sobretudo, fruto do inconformismo que lhe corria nas veias toda vez que algum discurso dogmático se impusesse a dirigir-lhe a vida. De um regime alimentar forçado, veio, ele, a criticar as idéias de todo e qualquer regime que lhe quisessem enfiar goela abaixo. 

Ainda hoje, carrega com desgosto a necessidade que tem de se alimentar. Magro, quase raquítico e com a barba crescendo desordenada, este personagem nos deixa indecisos quanto a ser a figura utópica de um Dom Quixote ou, talvez, a de uma criança, ainda agarrada às saias da mãe, a ponto de que, mesmo esta finada há alguns anos, sinta por meio do fomento à rebeldia, uma forma eficaz de mantê-la sempre consigo.   


GOELA ABAIXO
Cristina Bischoff

Colher cheia de cacos de vidro
Bolo alimentar cheio de pontas agudas
Que escorregam lentamente pelo exôfago
A garganta vermelha
Profunda irritada
Violência e sexo
A ardência interior do artista
Espetos que explodem na boca

ARTE – ARTE. TARSILÁ


  DANIELE NOAL GALI

ESPELHO. DESVIA. KLIMPT.
ESPELHO NÃO. BAUCAR.
RETROVISOR. CONTRA-MÃO.
RETROVISOR TAMBÉM.
VÊ E OLHA (ESPIA).
ASSIM: VÊ-VÊ.
IMAGEM EXPLOSÃO.
EXPLODE. CEGA. VOCIFERA.
ESCOLHER. TALVEZ.
ILUSÃO. ÓTICA.
ILUSÃO CAÓTICA. GENTILEZA.
CAÓTICA ILUSÃO. AGRIDE.
BRANCO. PLANO. SULCO.
PANO. FUNDO. FLUXO.
FUNDO. SUMO. RIVERA.
AZUL. CASULO. PICASSO.
ESPELHOS REVERSOS. SORRI.
MÚLTIPLOS. MULTIPLICAM. BISPO.
RECORTADOS. DESCOLAM. BACON.
CALEIDOSCÓPICOS. DEFORMAM.
ROSTOS. CORPOS. OLHOS. MOLES.
ESCORREGAM. VAZAM.
PIA. ESPIA. VIA. LINHAS. DALI.
(DES) ENQUADRA. (DES) PINTA.
(DES) FOCALIZA. (DES) VELA.
(DES) CENTRA. (DES) MOLDURA.
(DES) VIA. (DES) RUA.
(DES) CONHECE. (DES) PRAZER.
(DES) DOBRA. (DES) LOUCA.
(DES) TOA. (DES) ARTE.
(DES) LOCA. (DES) INSANA.
(DES) FAZ. (DES) COSTURA.
(DES) MAZELAS. (DES) GOVERNA.
(DES) TRANSCURSOS. (DES) RABISCA.
(DES) INTERESSA. (DES) PASTICHE.
(DES) BLOCA. (DES) MEIA


(DES) PENDURA.
(DES) MOLHA.
(DES) SECA.
(DES) ENSABOA.
(DES) ILUMINA.
(DES) PRETO-BRANCO.
(DES) LADRILHOS.
(DES) MOBILIÁRIOS.
(DES) PIA.
(DES) NUDA.
(DES) GRUDA.
(DES) BOTA.
(DES) MANCHA.
(DES) ARRUMA.
(DES) HIGIENIZA.
(DES) AGRUPA.
(DES) COLA.
(DES) AZULEJA.
(DES) ENCANA.
(DES) TORTA.
(DES) PLANA.
(DES) ORGANIZA.
(DES) PRENDE.
(DES) ARTE.
(DES) ILUDE.
(DES) REGULA.
(DES) FORMATA.
(DES) EJA.
(DES) CRIA.
(DES) RAZÃO.
(DES) AMOR.
(DES) ANIMA.
(DES) FARÇA.
(DES) BALDE.
(DES) BUNDE?

(DES) MENTE. (DES) MEIO.



DEVIR-FORMIGAMENTO

Cap. 1: A Transformação para o Não-Sóbrio

Cap. 2: Sabores do Impossível

Cap. 3: Mundalização do Caminhar

Cap. 4: For(a)miga


Resenha

Sentiu-se pequeno. Menor. Menor ainda. Tudo formigava em seu corpo. Frio e calor se misturavam como em uma onda que lhe tomava por inteiro. Andava sem parar. Incessantemente à procura. Experimentava-se em sensações impertinentes, estranhas a um universo que há tanto considerava ser seu. Muitos universos descobria. Prazer do doce, irritação do ácido, salivação do salgado. Desejo. Compreendeu-se outro no imprevisível, entregue à sensação do devir-formigamento.

Letícia B. Gomes

Textos imagético e escrito de Letícia B. Gomes

Eu-totó viajante

Capítulo I – Descoberta por si mesmo

Capítulo II – Viagem ao centro molecular

Capítulo III – Multiplicação no corpo

Capítulo IV – O finito infinito

Resenha do livro rizomático

O livro conta a história de Eu-totó Viajante, que não sabia de onde vinha nem para onde iria, apenas percebia que estava no âmago molecular de um ser e que nele exercia mudanças, provocava alterações com intensidades profundas em seus desejos. E esse ser parecia gostar de sua expressividade, pois se via, a todo o momento, fazendo reflexões, criando situações imaginárias a serem exteriorizadas. Eu-totó Viajante, diante da sua afetação, decidira multiplicar-se nesse corpo para que ele produzisse, mais e mais, infinitas possibilidades, delirantes sonhos, irrefutáveis prazeres e uns cem números de milhares de alegrias. Eu-totó Viajante era o finito infinito, percorrendo um território pleno de sangue, rupturas e paixão pela vida.

Tânia Marques

Tradução plástica de rizoma

Transcriação que se faz no escorregamento entre os entres. Derrete, mistura, violenta e desfaz o que é uno, verdade, forma. A velocidade adquirida no meio, no entre-ser. Riacho roendo as margens e dissonando, invadindo, emanando intensidades. Devir-imagem desintencionada, que se cria ao olhar do fora, do não-conceitual, no que não é aparente ou decifrável. Rizoma.   

Letícia Gomes

rizomar é...

Rizomamos no último encontro do grupo das Bio-Oficinas. Entre conversas para troca de ideias acerca do conceito deleuzeano/guattariano de rizoma, Patrícia solicitou-nos que fizéssemos uma tradução dele por meio de outra linguagem: a plástica [visual]. Nossas mãos se potencializaram de devires-artísticos, nossos sentidos se entremearam aos nossos pensamentos e passamos ao registro do nosso próprio conceito. Infelizmente, para mim, o tempo do encontro foi insuficiente para eu concluir a minha imagem. Um rizoma interrompido pelo relógio.

Levei a minha tela para casa, ansiosa para concluir a minha fatia do conceito rizomático fora do seu contexto inicial.  Assim procedi, e, ao chegar, continuei pintando o meu rizoma do jeito que eu o imaginava e o sentia. Dei-me conta de que toda essa trajetória, sair do encontro com a minha tela inacabada e molhada pelas tintas, equilibrando-a no ônibus, depois a minha chegada a casa, a continuação da pintura após fazer um lanche, a primeira fotografia ainda tirada com as tintas frescas, depois a segunda fotografia, no outro dia, já com a tela totalmente seca, a ser enviada novamente à Patrícia e a solicitação para que esta valesse como sendo a “verdadeira”, constituiu-se num rizoma. Houve uma ruptura, um corte na criação do meu conceito, ele foi atravessado por outras circunstâncias, recebi outras sensações, outros encontros e meu trabalho veio a dar visibilidade a essas novas influências, não previstas inicialmente, mas possíveis de uma sequência de leituras e sem aquele compromisso pensado no momento do disparo, ou seja, o de manter meu pensamento exatamente igual ao do ponto de partida. Então, o meu rizoma é síntese de uma trajetória maior do que a dos meus colegas, porque a minha tela sofreu um processo de desterritorialização. Ela apresenta uma função metalinguística, pois a própria pintura, por meio de sua trajetória rizomática, serve para explicar o conceito de rizoma.

                              Tradução da expressão plástica         

rizoma: camadas de intensidades, texturas, sabores e cheiros diferentes que se conectam ou não, mas que abrem sempre a possibilidade de surgimento de uma terceira via; poiesia em que o entre se faz apairecer, sem eira nem beira, à sua vontade, deslizando pra cá e pra lá, afetando-se ou fazendo afetamento.

Tânia Marques
Contos Rizomáticos. Tecnologia do Blogger.
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